Talvez muita gente tenha notado e quando eu chegar não tem mais nada. Corri!
Naquela hora não tinha explicação - ainda hoje não tem - um deles tinha caído e era por isso que todos observavam atentos com os rostos virados para baixo. Recolhi devagarinho e levei comigo como quem leva um tesouro. Eu tinha uma estrela nas mãos.
Era pequenina, meio tímida e desajeitada, talvez tivesse tropeçado nos próprios pés para cair ali.
"- Não se preocupe, isso vive acontecendo."
Isso vive acontecendo? E como ninguém vê? As pessoas não olham mais pra cima? Não fazem mais pedidos as estrelas cadentes? Elas morrem depois disso?
Cuidava todos os dias e a comida favorita dela eram as histórias e fantasias infantis. Ficava radiante, mas quando pôde andar sozinha decidiu voltar. Dava pra ver que todos a recebiam brilhando e viravam as costas para o mundo aqui em baixo.
Eu estava feliz, só que elas me esqueceram agora que devolvi a parte que faltava.
Minha surpresa veio no outro dia, lá estava mais uma desabando. Duas, três, incontáveis. Todos os dias.
Ainda pego, levo pra casa, cuido, conto histórias e as vejo dormir até ficarem boas e resolverem subir. Enquanto devolvo e pinto outra luzinha fico pensando que seria bacana se eu aprendesse cair ao contrário, pra dentro do céu.
Digo que vou ser sempre a apanhadora de estrelas, mas elas nunca dizem se vão me levar lá pra cima.
Foto por: Mim. Uma das minhas mil e uma manias.